sábado, 29 de agosto de 2009

20/08/2009 - Material trabalhado antes do TP 4

Material editado na Revista Língua Portuguesa nº19 - COMO INCENTIVAR E TRABALHAR COM A PESQUISA GRAMATICAL DENTRO DA SALA DE AULA. por Milton Francisco*, ( A
GRAMÁTICA COMO PESQUISA ), pg 40-45.

Com a publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais pelo Ministério da Educação em 1997 e 1998, foi oficialmente atribuído aos professores de língua portuguesa o desafio de implementar, em toda a educação básica, um novo ensino de gramática. O maior impacto dessa proposta foi (e continua sendo) o de abandonar o ensino de regras gramaticais focado em frases isoladas, acompanhado do desgastante e infrutífero ensino da nomenclatura gramatical. Como toda mudança cultural, essa tarefa não tem sido fácil. Mas há resultados positivos, graças ao comprometimento de nossos professores, ao propósito de mudança empreendida pelo Ministério da Educação, cursos de Letras e Pedagogia, editoras, entre outros importantes atores da educação nacional. Podemos afirmar que o cenário de ensino de língua portuguesa no Brasil agora é outro, embora não seja o desejável, pois a defesa da pura gramática tradicional (GT, normativa e prescritiva) ainda é forte, sobretudo na mídia televisiva e impressa. Há, em todo o Brasil, pelo menos, dezenas de colunas nos jornais dedicadas à GT.Como principal motivo para tal guinada, talvez possamos apontar o fato de o ensino e domínio de regras em frases isoladas não conduzir o aluno à produção de textos adequados à nenhuma cultura, entendida de modo amplo. Na verdade, a sociedade espera que a escola ensine às crianças e jovens a produzirem textos articulados com a posição social ocupada pelos interlocutores no momento de produção e/ou circulação, textos gramatical e tematicamente bons em relação à esfera social em que se inserem, textos socioculturalmente situados em um ou outro contexto específico. A sociedade, ao esperar esse procedimento da escola, está bem fundamentada, pois já é consenso de que a escola deve (também) preparar o jovem para as diversas relações e práticas sociais, entre elas, as que ocor rem mediante “textos’.

Uma maneira interessante de trabalharmos a gramática é na perspectiva da linguística textual, apontando e examinando em diferentes gêneros textuais os recursos coesivos empregados pelo autor. Esse procedimento levaria o aluno a perceber, nos diferentes gêneros, elementos gramaticais que a GT quase sempre trata de modo limitado em frases isoladas. Levaria o aluno a perceber, ainda, aspectos relevantes do uso efetivo da língua, não contemplados pela GT.Uma pesquisa desse tipo privilegia os aspectos gramaticais inerentes à norma culta, assim como os gêneros e suas situações de produção. Chamamos aqui de situação de produção os seguintes elementos: o autor, sua posição social e intenções ao produzir determinado texto; o leitor a quem destina o texto e sua posição social; o suporte onde o texto é publicado (como o nome do jornal ou revista, data e páginas de publicação); o contexto sócio-histórico e político. Juntos, esses ele mentos condicionam e dão pistas consideráveis sobre a produção e a leitura textual.De acordo com a série escolar e o enfoque desejado pelo professor, seria valioso se os alunos descobrissem, em diferentes gêneros, os recursos coesivos preferencialmente empregados. Que recursos são usados para (ou como ocorrem) as retomadas referenciais, a continuidade do assunto, os laços de uma parte do texto com a outra? Como ocorrem em gêneros X ou Y os recursos preferenciais: seja, por exemplo, o uso de termos repetidos, de pronomes, de elipses, de sinônimos, seja o uso de conjunções, de preposições, entre outros?Os alunos, muito provavelmente, perceberiam que em determinados gêneros há grande uso de um recurso, enquanto, em outros gêneros, outros recursos. E por que a preferência pelo pronome, pela elipse ou pelos substantivos: por exemplo, “ele”, “isso”, “aquele sujeito”, “nosso prefeito”, “o líder da cidade”, “o herói brasileiro”? Perceberiam que cada recurso pode possuir uns ou outros aspectos conforme o gênero textual e a situação de produção. Compreenderiam o uso das classes gramaticais, por exemplo, além dos aspectos enfatizados pela GT. Perceberiam que em alguns gêneros e/ou quando tratados certos temas, o autor muitas vezes usa os recursos coesivos (re)avaliando de modo positivo ou negativo o referente (pessoas, coisas, eventos). Já em outros gêneros e/ou temas, perceberiam que esse fenômeno é raro e inadequado.Mediante a pesquisa quantitativa e/ou qualitativa, ocorrerão, com certeza, descobertas e formação do conhecimento. Toda pesquisa começa com uma dúvida ou curiosidade, uma questão a ser respondida. As perguntas acima, entre outras, podem ser o começo de um trabalho com os alunos. O processo não é complexo: a partir do que conhecemos, criamos dúvidas, formulamos nossas questões e vamos à busca de respostas, nos debruçamos sobre a realidade e descobrimos como, por que, quando etc. Nesse caso, a realidade são os inúmeros gêneros textuais circulantes na sociedade, cabe-nos coletá-los.


PROCEDIMENTOS: De início, conte aos alunos o que são os gêneros, onde circulam e poderão ser encontrados, conte-lhes um ou outro fato da língua, provoque-os a criar perguntas, resolvam juntos em quais gêneros examinar um ou outro fenômeno linguístico. Realize esse trabalho inicial, de preferência, sem apresentar-lhes conceitos complexos; não dificulte o trabalho, sirva-lhes tais conceitos em doses homeopáticas. Em seguida, oriente-os a fazerem a coleta dos textos. Perece-nos melhor que o professor não a faça sozinho. Durante essa busca, eles descobrirão aspectos inerentes aos gêneros, aspectos relativos a cada esfera social, os quais o professor talvez tenha julgado interessante não dizer quando da orientação em sala de aula. Quando os alunos chegarem com os gêneros coletados, deixe-lhes contar dessa exploração. Eis um momento maravilhoso para que o conhecimento se alimente da busca realizada pelos alunos e da relação escola—sociedade. O exercício espontâneo de o aluno trazer a realidade de fora da escola para dentro da sala de aula torna todo o processo muito mais lucrativo. Valorize essa oportunidade. A análise do fenômeno linguístico escolhido pode ficar para a próxima aula. Tudo é lucro! Quanto à tradicional lista, por exemplo, de pronomes e suas classificações, os alunos poderiam, a qualquer momento, informarem-se quais são, ou relembrá-los, consultando a lista afixada pelo professor na parede da sala ou um livro de gramática, como fazemos nós professores quando julgamos necessário. E como “colamos’ hein? Nesse processo, o aluno passa a relacionar suas dúvidas com cada parte do livro de gramática. É o momento de aprender a manuseá-lo.

Nossa perspectiva no encontro: Esse material estava "brilhando" diante de meus olhos quando recebi a Revista, então não pude deixar de compartilhar com minhas cursistas, pois é bem o que estamos debatendo ao longo do estudo dos TP´S: como fazer para trabalhar textos com os alunos, buscando seu letramento e como fica a gramática? Estas questões estão sempre vindo à tona e através desta reportagem podemos perceber que estamos fazendo as coisas certas: realizando questionamentos prévios dos alunos, para percebermos o quanto os alunos possuem conhecimento sobre o assunto abordado em aula; oportunizar vivências através de diversas tipologias textuais e fazer com que eles encontrem utilização social para os trabalhos apreendidos na escola e que possam por fim perceber a importância da língua falada e escrita na sociedade.

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