GRAMÁTICA COMO PESQUISA ), pg 40-45.
Uma maneira interessante de trabalharmos a gramática é na perspectiva da linguística textual, apontando e examinando em diferentes gêneros textuais os recursos coesivos empregados pelo autor. Esse procedimento levaria o aluno a perceber, nos diferentes gêneros, elementos gramaticais que a GT quase sempre trata de modo limitado em frases isoladas. Levaria o aluno a perceber, ainda, aspectos relevantes do uso efetivo da língua, não contemplados pela GT.Uma pesquisa desse tipo privilegia os aspectos gramaticais inerentes à norma culta, assim como os gêneros e suas situações de produção. Chamamos aqui de situação de produção os seguintes elementos: o autor, sua posição social e intenções ao produzir determinado texto; o leitor a quem destina o texto e sua posição social; o suporte onde o texto é publicado (como o nome do jornal ou revista, data e páginas de publicação); o contexto sócio-histórico e político. Juntos, esses ele mentos condicionam e dão pistas consideráveis sobre a produção e a leitura textual.De acordo com a série escolar e o enfoque desejado pelo professor, seria valioso se os alunos descobrissem, em diferentes gêneros, os recursos coesivos preferencialmente empregados. Que recursos são usados para (ou como ocorrem) as retomadas referenciais, a continuidade do assunto, os laços de uma parte do texto com a outra? Como ocorrem em gêneros X ou Y os recursos preferenciais: seja, por exemplo, o uso de termos repetidos, de pronomes, de elipses, de sinônimos, seja o uso de conjunções, de preposições, entre outros?Os alunos, muito provavelmente, perceberiam que em determinados gêneros há grande uso de um recurso, enquanto, em outros gêneros, outros recursos. E por que a preferência pelo pronome, pela elipse ou pelos substantivos: por exemplo, “ele”, “isso”, “aquele sujeito”, “nosso prefeito”, “o líder da cidade”, “o herói brasileiro”? Perceberiam que cada recurso pode possuir uns ou outros aspectos conforme o gênero textual e a situação de produção. Compreenderiam o uso das classes gramaticais, por exemplo, além dos aspectos enfatizados pela GT. Perceberiam que em alguns gêneros e/ou quando tratados certos temas, o autor muitas vezes usa os recursos coesivos (re)avaliando de modo positivo ou negativo o referente (pessoas, coisas, eventos). Já em outros gêneros e/ou temas, perceberiam que esse fenômeno é raro e inadequado.Mediante a pesquisa quantitativa e/ou qualitativa, ocorrerão, com certeza, descobertas e formação do conhecimento. Toda pesquisa começa com uma dúvida ou curiosidade, uma questão a ser respondida. As perguntas acima, entre outras, podem ser o começo de um trabalho com os alunos. O processo não é complexo: a partir do que conhecemos, criamos dúvidas, formulamos nossas questões e vamos à busca de respostas, nos debruçamos sobre a realidade e descobrimos como, por que, quando etc. Nesse caso, a realidade são os inúmeros gêneros textuais circulantes na sociedade, cabe-nos coletá-los.
PROCEDIMENTOS: De início, conte aos alunos o que são os gêneros, onde circulam e poderão ser encontrados, conte-lhes um ou outro fato da língua, provoque-os a criar perguntas, resolvam juntos em quais gêneros examinar um ou outro fenômeno linguístico. Realize esse trabalho inicial, de preferência, sem apresentar-lhes conceitos complexos; não dificulte o trabalho, sirva-lhes tais conceitos em doses homeopáticas. Em seguida, oriente-os a fazerem a coleta dos textos. Perece-nos melhor que o professor não a faça sozinho. Durante essa busca, eles descobrirão aspectos inerentes aos gêneros, aspectos relativos a cada esfera social, os quais o professor talvez tenha julgado interessante não dizer quando da orientação em sala de aula. Quando os alunos chegarem com os gêneros coletados, deixe-lhes contar dessa exploração. Eis um momento maravilhoso para que o conhecimento se alimente da busca realizada pelos alunos e da relação escola—sociedade. O exercício espontâneo de o aluno trazer a realidade de fora da escola para dentro da sala de aula torna todo o processo muito mais lucrativo. Valorize essa oportunidade. A análise do fenômeno linguístico escolhido pode ficar para a próxima aula. Tudo é lucro! Quanto à tradicional lista, por exemplo, de pronomes e suas classificações, os alunos poderiam, a qualquer momento, informarem-se quais são, ou relembrá-los, consultando a lista afixada pelo professor na parede da sala ou um livro de gramática, como fazemos nós professores quando julgamos necessário. E como “colamos’ hein? Nesse processo, o aluno passa a relacionar suas dúvidas com cada parte do livro de gramática. É o momento de aprender a manuseá-lo.
Nossa perspectiva no encontro: Esse material estava "brilhando" diante de meus olhos quando recebi a Revista, então não pude deixar de compartilhar com minhas cursistas, pois é bem o que estamos debatendo ao longo do estudo dos TP´S: como fazer para trabalhar textos com os alunos, buscando seu letramento e como fica a gramática? Estas questões estão sempre vindo à tona e através desta reportagem podemos perceber que estamos fazendo as coisas certas: realizando questionamentos prévios dos alunos, para percebermos o quanto os alunos possuem conhecimento sobre o assunto abordado em aula; oportunizar vivências através de diversas tipologias textuais e fazer com que eles encontrem utilização social para os trabalhos apreendidos na escola e que possam por fim perceber a importância da língua falada e escrita na sociedade.
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