quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Unidade 1 / TP1 - VARIANTES LINGUÍSTICAS: DIALETOS e REGISTROS

  Nesta unidade fala-se da linguagem não como uma simples forma de comunicação, mas como interação, na qual os sujeitos envolvidos realizam uma ação de mão dupla, um influindo sobre o outro, em função do lugar que ocupam nessa interação.
" Reconhecer locutor e interlocutor como igualmente importantes no processo de interação. " ( TP1, pg 13 )
  Aqui vamos entrar num ponto muito importante, que sempre é apontado pelo autor Chico Buarque de Holanda : O HOMEM COMO UM SER DE CULTURA." Nossos alunos pertencem a cidades diferentes, modos de viver diferentes e é nítido que muitos possuem uma linguagem própria, com especificações típicas de suas regiões. Para nós aqui no Sul isso já é comum, dependendo da cidade, cada qual tem um sotaque diferenciado, mas que marca a mesma tipificação do Gaúcho.
  As atividades desta Unidade são muito pertinentes e boas de trabalhar com os alunos, independente da série, pois os textos são com uma linguagem bem marcada e assuntos do dia-a-dia. Creio que esta Unidade é uma das que eu achei mais fácil para aplicação em aula e muitas das atividades já trabalhei, mesmo antes de estar estudando este TP, são situações acessíveis e que trabalhamos ao longo do ano com nossos alunos. Linguagem e comunicação.
  Nossos alunos possuem uma linguagem diferente da nossa, assim como nós de nossos pais e avôs, pois são gerações diferentes, mas o processo comunicativo é o mesmo e este trabalho é muito bom de apontar em sala de aula. Tem um material que está circulando na internet, que é o DICIONÁRIO GAUDÉRIO, segue para apreciação:

É sabido que o sotaque mais xucro, grosso e assustador de todo o universo conhecido (e do desconhecido também) é o nosso, oriundo do sul. Esse dicionário é quase perfeito, especialmente para quem não é 'nativo' deste chão!!!

Adevogado: primeira palavra do dicionário, lista telefônica, etc
Alemoa: loura
Apiá: descer
Apinchá: jogar
Aragem: frio, nevoeiro.
Atorá: cortar
Auto: automóvel
Avil: isqueiro
Baita: grande
Bergamota: tangerina, mexerica
Boleá: jogar, entrar
Brique: negócio de compra e venda
Briquiá: trocar, de mano ou não
Bugre: índio ou descendente de índios
Cacetinho: Pão francês pequeno
Cagar a pau: bater
Camassada de pau: apanhar
Campiá: procurar
Capaz!: exclamação de espanto, as vezes de concordância , as vezes não.
Catrefa: pessoas que não valem nada
Cheschimia: ximia de queijo (lê-se queschimia)
Chimia: doce de fruta de passar no pão
China: mulher
China Véia: esposa
Chinaredo: zona
Chumaço: conjunto de alguma coisa
Chucro: pessoa enverganhada, cavalo sem doma
Chuvarada: tempestade, chuva de muitos dias
Cóça de laço: apanhar
Coisarada: conjunto de várias coisas diferentes
Colono: agricultor
Colonice: brega, caipira
Crêendios pai: exclamação quando algo dá errado
Cria: filho
Criaredo: um monte de filhos
Cuca: pão doce
Cusco: Cachorro
De revesgueio: de um tal jeito
De vereda: rápido
Faceiro: alegre, feliz
Fincá: cravar
Fóque: lanterna
Fuque: fusca
Gaita: acordeon (intrumento musical)
Gaitada: risada
Garrão: calcanhar
Gringo: descendente de italianos
Guaiaca: carteira de dinheiro
Incebando: enrolando, fazendo cera
Ingrupi: enganar
Ínôzá: amarrar (já viu palavra com todas as sílabas com acento?)
Inprenhá: engravidar
Insúcia: em conjunto
Intertê: fazer passar o tempo com algo
Inticá: provocar
Intrevêro: bagunça
Intuiado: cheio
Invaretado: nervoso
Japona: jaqueta de nylon
Jóssa: coisa
Judiar: mal tratar
Kakedo: pessoas que não valem nada
Lagartear: sentar no sol depois do almoço
Lazarento: xingamento
Luitá: brigar
Macharedo: grupo de homens
Malinducado: mal educado
Mata-cobra: soco de cima para baixo, golpe marcial
Massa: macarrão
Murcilha: morcela
Náifa: faca
Na capa da gaita: muito cansado
Ôio-d´água: nascente
Paiêro: fumo de palha
Pânca: modo de se portar, por exemplo: panca de motoqueiro (jeito de motoqueiro)
Pare, home do céu: parar, o mesmo que 'se par de bobo' e 'deusolivre home'.
Patiá: ser enganado, pagar de bobo
Pelhor: o contrário de melhor
Pelo Duro: qualquer outra pessoa que não seja descente de alemão, italiano ou índio
Peral: declive acentuado no relevo no solo como um canyon
Perna de salame: peça de salame
Pescociá: olhar para os lados, matar tempo
Pestiado: com alguma doença
Pexada: acidente
Piá: Guri
Piá pançudo: guri bobo
Pingo: cavalo manso
Podá: ultrapassar, ou cortar, o mesmo que apodá
Posá: dormir em algum lugar
Prenda: mulher bonita
Proziá: conversar
Puxe: frete, transporte
Rafuage: vagabundo, malandro
Rangueá: gemer
Rancho: compra do mês
Ratiá: incomodar
Réco: zíper
Relampiando: trovejando
Resbalão: escorregar
Revertério: dor de barriga
Rinse: condicionador de cabelos
Rinso: sabão em pó
Sai fincado: suma daqui
Sinalêra: semáforo
Sóga: corda
Sólinha: voadeira, golpe marcial
Táta: empregada doméstica
Tatinha: babá
Táio: corte
Te atraca: faz isso
Tentiá: filar
Tchê: homem, guri, pessoa. ô tchê = ei você
Trupicá: tropeçar
Tunda de laço: apanhar
Uso campião: usucapião
Vareio: vencer fácil
Veiáco: mal pagador
Vila: favela
Vileiro: favelado
Vortiada: passeio
Zoiudo: impertinente, olho-gordo




Exemplo de aplicação: Agora te atraca e manda esse e-mail para intertê os teus amigos, aproveita enquanto teu chefe foi dá uma vortiada... Não sei como ele não vê que mesmo intuiado de trabalho você fica incebando o dia inteiro... Pare de campiá desculpa, fica falando que tá pestiado e ainda consegue ingrupi o coitado do chefe... Mas te atraca logo, antes que ele volte e fique invaretado de te ver pescociando e te dê um mata-cobra de vereda... E se achar que não vale a pena enviar para seus amigos ficarem faceiros, pegue uma sóga e se enforque!!! Pare de se bostiá, home do céu, não seja malinducado e manda essa jóssa de vereda!!! Porque eu já estou na capa da gaita de tanta gaitada que eu dei.


  Este material demonstra muito bem que apesar de um pouco "forçado" para muitos, existe uma linguagem diferente, provínda de uma certa região. Até entre nós gaúchos, dependendo da cidade, temos dificuldade de nos comunicar, imagina para quem é de fora.

 
" A cultura, entendida como o conjunto de formas de fazer, pensar e sentir de uma pessoa ou de uma sociedade, é uma construção histórica e varia no espaço e no tempo.
  A língua é, ao mesmo tempo, a melhor expressão da cultura e um forte elemento de sua transformação. A língua tem o mesmo caráter dinâmico da cultura. " ( TP1, pg 18 )
  É neste momento que penso até que ponto devemos interpretar nosso aluno como escrevendo "errado". Que concepção temos que ter sobre o "erro"? Muitos são os casos de perceber que este aluno fala de tal jeito, por isso representa na escrita seu modo de falar. Temos sim que mostrar que existe uma convenção, a NORMA - forma de cada grupo usar a língua, mas que ele deve saber que se aplica em situações diversas e que entre seu meio comum, ele pode falar de seu modo, mas que isso não é em qualquer situação comunicativa.
  Devemos levar em conta, que a língua não é uniforme e nem única: ela apresenta variações, conforme os grupos que a usem. Que isso levará em conta faixa etária, espaço geográfico, social e profissional. Não devemos utilizar o modo de falar de meu aluno, como pretexto para apontar o "erro".
  É fundamental rever nossos conceitos, devemos criar oportunidades para que nossos alunos explorem diversas situações sócio-comunicativas, em que usem diversos dialetos e registros, para poderem refletirem e discutirem sobre tais situações. Devemos desenvolver a competência para a leitura e produção de textos.

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