terça-feira, 10 de novembro de 2009

OFICINA Nr 1 - Unidades 1 e 2

  Neste dia conversamos sobre as reportagens da Revista Língua Portuguesa nrº19 - Curiosidades Linguísticas e o Abismo entre a língua dos falantes e a dos compêndios gramaticais - pgs 28 a 31 e 52 a 60. Também analisamos a leitura de um texto fornecido pela minha cursista Fabi - " A decadentização da língua " de Ubaldo Ribeiro, que nos possibilitou perceber que a língua está em constante movimento, mas devemos utilizar o bom senso.

" Essas considerações nos levam a rever nossa atuação como professores de Língua Portuguesa. Em sala de aula, é fundamental criar oportunidades para que os alunos trabalhem textos que exemplifiquem diversas situações de comunicação, em que dialetos e registros diferentes se apresentem para a sua reflexão e discussão e como ponto de partida para a produção de textos igualmente diversificados. Esse é, afinal, o objetivo maior do ensino da língua: desenvolver no sujeito a competência para a leitura e produção de texto." ( pg 41 )
  Na sequência, falamos mais alguns apontamentos das unidades e partimos para o relato do Avançando na Prática da pg 65, que foi trabalhado pela cursista Sheila. Após diálogo, nós analisamos este TP em questão e adoramos os trabalhos com todos os textos, são assuntos bem atuais e da realidade de nossos alunos.
  Ao partimos para a Crônica " A outra senhora", chegamos as seguintes conclusões:
  - O texto do ponto de vista como professora de Língua Portuguesa, existe a falta de pontuação e repetições de frases, mas ao pararmos para observar, vimos uma linguagem difícil, com palavras complexas e de um vocabulário não muito usual. Devemos observar também que quem escreve é uma garotinha e o texto é informal, uma carta de filha para mãe;
  - Também teve um progresso, pois inicialmente os produtos além de complexos, eram de uma realidade diferente da mãe, pertenciam a uma outra geração. Ao longo, a menina vai valorizando a idade da mãe e muda seus interesses de compra;
  - Além do dialeto/registro da criança, a carta mostra outros traços como os geográficos  e profissionais ( Mammy / Hi-Fi ), procurando impressionar, mostrar que ela tem conhecimento;
  - Essa linguagem tem objetivo de causar surpresa e ao mesmo tempo, dificuldade de entendimento, misturados com a inoscência e meiguice da garotinha;
  - O material é a revista e é através deste suporte, que a menina usa a imaginação com o que lê e vê, para criar a carta;
  - A menina faz somente cópia, pois ela não conhece os objetos, ela vê tudo na revista;
  - O vocabulário contido na carta nós não dominamos e até tivemos dificuldades na leitura. Esse vocabulário é para causar boa impressão e para fazer uma crítica ao consumismo e também chamar para o fato de ser a mãe que lava, zela, passa...;
  - O amor de filha para mãe também fica evidente: ( Mammy, beijo beijado, carinhosão, filhinha...);
  - A linguagem da menina não é única e nem uniforme;
  - O autor transforma uma carta cheio de termos técnicos, com a mistura de uma linguagem emotiva, poética e bem humorada;
  - Assim, gostamos muito do texto. É um ótimo texto para ser trabalhado em sala de aula. Podemos fazer os alunos apontarem palavras que conhecem ou não. Verificarem as gírias, o vocabulário e também cremos que é possível trabalhar em quase todas as séries, partindo para a exploração dos parágrafos e pontuações.

RELATO DE PRÁTICA SHEILA:

Para trabalhar este avançando na prática com a 5ª série, levei para aula o texto: Por que meus pais estão se divorciando? Kabb, John e Viscott, M. D. David, da p. 62 e 63 da unidade 2 do TP1. Mesmo sendo um texto escrito na norma culta, mas sendo parte de um contexto bastante conhecido e vivenciado pela maioria da turma. Discutimos sobre o assunto do texto, lendo e explorando cada parágrafo e analisando a idéia central de cada um. Essa discussão, o conhecimento prévio e as experiências vividas pela turma, favoreceram o processo de compreensão textual. Nesse contexto, percebi que é por aí que podemos atrair a atenção e interesse dos alunos, trazendo assuntos conhecidos, que fazem parte da rotina deles que possibilitam uma maior integração com o conteúdo trabalhado, por se tratar de algo que já é conhecido.
Comparamos o texto trabalhado anteriormente com o texto de Ziraldo, do Menino Maluquinho que tratam do mesmo assunto: o divórcio, mas apresentam diferenças: um conta uma história e o outro expõe idéias. Um é invenção; e o outro está ligado à realidade, inclusive à realidade de vários de meus alunos. E apesar de parecer um assunto que possa mexer com os sentimentos e talvez trazer mágoas, ressentimentos e dor, foi um assunto acolhido com bastante motivação e interesse, talvez por tornar-se um espaço aberto para colocar para fora todas as angústias, idéias do que pensam e a forma como se sentem em relação a esta situação vivida por eles, sem nenhum medo ou vergonha, pois observaram que é um assunto vivido por muitos e não exclusivo de um só. Percebi que tratar de assuntos que mexem com o próprio “eu” de cada um, principalmente dos jovens e adolescentes, é extremamente importante, é um momento de conversa, de interação de experiências, de desabafo, de conhecimento e desprendimento de assuntos que muitas vezes ficam guardados, causando dor e vergonha. E para nós, professores, servem como um gancho para trabalharmos conteúdos de forma mais prazerosa, incluindo textos de diversos tipos e assuntos em nossas aulas. E por que não textos e assuntos que caiam no gosto de nossos alunos?

Socializando o Conhecimento – Unidade 01 ( FABI )


Variantes linguísticas: dialetos e registros

Toda língua possui variações linguísticas. Elas podem ser entendidas por meio de sua história no tempo (variação histórica) e no espaço (variação regional). As variações lingüísticas podem ser compreendidas a partir de três diferentes fenômenos.
1) Em sociedades complexas convivem variedades linguísticas diferentes, usadas por diferentes grupos sociais, com diferentes acessos à educação formal; note que as diferenças tendem a ser maiores na língua falada que na língua escrita;
2) Pessoas de mesmo grupo social expressam-se com falas diferentes de acordo com as diferentes situações de uso, sejam situações formais, informais ou de outro tipo;
3) Há falares específicos para grupos específicos, como profissionais de uma mesma área (médicos, policiais, profissionais de informática, metalúrgicos, alfaiates, por exemplo), jovens, grupos marginalizados e outros. São as gírias e jargões.
O estudo desta Unidade busca refletir a questão da linguagem não como uma simples forma de comunicação ( em que se valorizava o locutor/emissor) , mas como interação, na qual os sujeitos envolvidos realizam uma ação de mão dupla, um influindo sobre o outro, um função do lugar que ocupam nesta interação.
Reconhecer locutor e interlocutor como igualmente importantes no processo de interação, percebê-los como co-autores, exige um aprofundamento na analise das condições em que eles interagem.
A Unidade tem como objetivo relacionar língua e cultura; identificar os principais dialetos do Português; identificar os principais registros do Português.
Os valores tanto pessoais quanto dos grupos são constituídos historicamente: expressam a cultura dessas pessoas ou grupos e dependem basicamente das experiências de vida do individuo e de seu grupo, ocorrias em determinada época e lugar.
A língua é ao mesmo tempo, a melhor expressão da cultura e um forte elemento de sua transformação. O caráter dinâmico da língua revela a constante evolução da sociedade e de sua cultura, refletida sempre na língua. Esta, por sua vez, em constante construção pelos seus usuários, acaba por transformar as relações humanas e, portanto, a cultura e a sociedade.
A língua apresenta certas regularidades que todo falante deve seguir, mas, como é um sistema aberto, a língua oferece inúmeras possibilidades da variação de uso, que criam, junto com o contexto, interações sempre novas irrepetíveis.
A seção 2 apresenta a diferença entre dialetos e idioletos.
A língua não apresenta uniforme e única: ela apresenta variações, conforme os grupos que a usarem. Cada uma das variantes da língua usada por um grupo apresenta regularidades, recursos normais para aquele grupo, e chama-se dialetos.
Os principais dialetos são: o etário (da criança, do jovem e do adulto); o geográfico, ou regional; o de gênero; o social (popular e culto0; o profissional).
O idioleto é o conjunto de marcas pessoais da língua de cada individuo, como resultante do cruzamento dos vários dialetos (etário, regional, profissional, de gênero, social) que constituem a sua fala.
Diante das considerações entre língua e cultura devemos rever nossa atuação como professores de Língua Portuguesa. Em sala de aula, é fundamental criar oportunidades para que os alunos trabalhem textos que exemplifiquem diversas situações de comunicação, em que dialetos e registros diferentes se apresentem para a sua reflexão e discussão e afinal, o objetivo maior do ensino da língua: desenvolver no sujeito a competência para a leitura e produção de textos.
O texto A decadentização da língua, de João Ubaldo Ribeiro nos possibilita perceber que a língua está em constante movimento, mas devemos utilizar o bom senso.

A decadentização da língua
João Ubaldo Ribeiro
Claro, todo mundo já ouviu dizer que línguas são como seres vivos, que mudam com o tempo e até morrem. É verdade e, se não fosse assim, ainda estaríamos falando latim. Nada, portanto, contra as mudanças na língua, contanto que sejam ditadas por uma razão mais ou menos respeitável, até mesmo pela famosa lei do menor esforço, quando não redunde em empobrecimento da capacidade de expressão. Mas acho que está havendo um certo exagero e, daqui a pouco, estaremos falando um dialeto primitivo de umas 300 palavras par pessoas cultas e umas 25 para a maioria.
Começa-se, é claro, com as chamadas “palavras-ônibus”. Servem para tudo e, em português, as mais comuns atualmente são “maravilha” e seus derivados, “super”, “parada” e “valeu”, que, com alguns acréscimos, podem constituir toda uma conversação.
- Eu super me dei bem naquela parada – diz o primeiro.
- Ah, aquilo sempre foi uma maravilha – responde o segundo.
- Ah, supervaleu! – despede-se o primeiro.
O “cujo”, coitado, restinho do genitivo que ainda sobrava por aqui, passou da categoria de pedante, entrou para a de pernóstico e, em breve, será arcaísmo. Ninguém mais diz “cujo”, só diz “que”. “A moça que eu vi o pai ontem” é o certo hoje em dia e quem disser “a moça cujo pai eu vi” corre o risco de não ser entendido. Sei que vai haver entre vocês quem não acredite e ou até compreende, embora esteja contatando a verdade. Outro dia eu disse um “cujo” numa entrevista e a entrevistadora me deu a impressão de que só entendeu depois de pensar em alguns laboriosos segundos.
Há também um movimento que cada vez aumenta mais, para abolir a preposição “a” no uso corrente. Ou seja, prestando atenção, você vai ouvir na televisão alguém dizendo “daqui dois dias” ou, bem pior, “igual eu” . Em compensação “neste ano” “nesta semana” por exemplo, que nunca foram correntes para dizer, “este ano” ou “esta semana” , agora são a única maneira certa de falar. “Neste ano, tu vai fazer igual eu, procurar uma parada diferente no carnaval, não é?
Os verbos vêm sofrendo bastante também. Por exemplo, poucos entre nós, tem visto alguma coisa recentemente. A maior parte de nós hoje visualiza, principalmente quando enxerga. Ver a gente volta e meia ainda vê, mas ninguém enxerga mais, só visualiza. Até a sinal a gente não prestas mais atenção, a gente nota a sinalização. Ninguém chama a atenção para nada, sinaliza e nós vemos a sinalização, não o sinal. O verbo “pegar”, não sei bem por quê ( tem acento aí nessa quê, garanto a vocês – de vez em quando me comem um circunflexo), virou abundante e o certo, que era errado, é cada vez mais “pego” e outro dia um motorista de táxi se embasbacou porque eu sou da Academia e disse “pegado” a ele. E novamente garanto que não estou mentindo: já ouvi “eu tinha falo”, em vez de “falado”, o que talvez não cole porque fica chato tanto para homem quanto para mulher dizer isso, considerando que “falo” é substantivo e tem muito pouco a ver com a fala.
Os timbres também são amalucados. A droga “ecstasy” é para ser pronunciada com “e” aberto, pelo menos enquanto não for naturalizada, mas aqui virou uma maneira exótica de pronunciar “êxtase”. Isso, aliás, é comum, na incorporação de palavras dce nossa língua-mãe, ou seja, o inglês. Quando o “volley” (“vóli”, às vezes quase “válhi”) se naturalizou, virou “vôlei”. Até aí, tudo bem, naturalização é naturalização, mas por que “doping”, além de receber frequentemente dois pp, é “dópingue”? (Aliás, isto me traz à cabeça algo que tem pouco a ver com o que escrevo agora: por que a gente se irrita tanto quando inglês ou americano escreve Brasil com z? Em inglês é com z, assim como América aqui é com acento, França é com cedilha e “a” no fim e Alemanha é bastante diferente de Deutschland. Deve ser nosso combativo nacionalismo de araque). Outra mudança de timbre que me chateia é a de “obsoleto”. Não é conhecimento secrêto que o corrêto – e não é preciso ser discrêto quanto a isso – é “obsoleto”, mas escuto gritos de “olha o baiano” sempre que pronuncio certo. Tenho vontade de acertar um “dirêto” no cara.
“Loira”, que era variante, agora está ficando padrão. Ninguém, que eu tenha escutado, diz que um sujeito é “loiro” e eu acho que até pega mal em certas mesas de boteco, mas só se escreve “loira” agora. Outras palavras não estão tendo formas destronadas, estão sendo expulsas da língua, como os bons e velhos verbos “pôr” e “botar”. Acho que até em Itaparica galinha já está colocando ovo, em vez de botar. Colocando, imaginou eu, é mais elegante. Da mesma forma, “penalizar”, um verbo antes tão expressivo, botou para fora “punir” (não sem uma certa relação com o que acontece na sociedade) e “prejudicar”. Ninguém prejudica mais, só penaliza, que tem a vantagem adicional de terminar em “izar”.
A linguagem informática também traz suas pesadas contribuições. Por que diabo “salvar”, que não quer dizer nem “guardar”, nem “gravar” nem nenhum sinônimo destes, é usado, quando temos palavras perfeitamente adequadas? Por que “malévolo”, “mal-intencionado” ou “maldoso” é “malicioso”? Por que “corporate”, até fora da linguagem informática, é “corporativo”? Por que um determinado sistema não “suporta” outro, como se detestassem?
Finalmente, adeus para “existir” e “haver”. Agora só se diz “você tem”. “Você tem uma área chamada Amazônia. Muito bem, que é que você tem lá? Você tem uma floresta que precisa ser preservada. E aí você tem que caminhos?”. Eu não sei, só sei que nós tínhamos uma língua própria antigamente.
(Publicado originalmente em O Estado de São Paulo, 22.04.2007, página D3)


Avançando na Prática – Unidade 01 ( FABI )
Variantes linguísticas: dialetos e registros
Em sala de aula, é fundamental criar oportunidades para que os alunos trabalhem textos que exemplifiquem diversas situações de comunicação, em que dialetos e registros diferentes se apresentem para a sua reflexão e discussão e afinal, o objetivo maior do ensino da língua: desenvolver no sujeito a competência para a leitura e produção de textos.
Partindo desse princípio desenvolvi atividades que oportunizaram a percepção de diferentes linguagens mediante aplicação das seguintes atividades com a oitava série.
Em um primeiro momento apresentei aos alunos a foto de uma senhor(a) (depende do ponto de vista do aluno) chorando. Pedi que falassem o que estavam vendo, como era a pessoa, o que poderia ter acontecido para ela reagir daquele jeito.


Após a discussão, pedi que fizessem um parágrafo descritivo, em rascunho descrevendo características físicas e psicológicas da imagem; depois, solicitei aos alunos que produzissem um parágrafo narrativo, contando a história do senhor (a), o que teria acontecido para ele (a) ficar daquele jeito.
Após comentários, pedi que juntassem os dois parágrafos e compusessem um texto com a condição que eles utilizassem seus próprios vocabularios, em dupla, com mais parágrafos, sobre tudo o que foi discutido e analisado.
Por fim, comentamos que o texto descritivo enumera as características de uma pessoa e o narrativo apresenta uma sequência de ações. O texto formado por eles foi uma mescla de ambos os tipos.
Obs.: Quando distribui as imagens muitos alunos riram e recusam a realização da atividade, mas no decorrer da aula perceberam que poderiam sugar muitas informações a partir daquela imagem e a atividade foi um sucesso. Acabaram criando uma certa afetividade com a imagem, pois muitos não entregaram a imagem dizendo que gostariam de colar no caderno ou colocar na capa do trabalho. Durante a realização da atividade e leitura das produções, os alunos se divertiram muito. Valeu 8ª série !
Os alunos produziram maravilhas!!!
Como a atividade citada foi um sucesso, aproveitei o gancho e realizei o Avançando na Prática do TP1 – Seção 1 - página 17 .
Trabalhei o texto Retrato de Velho, de Carlos Drummond de Andrade.
Primeiramente, distribui o texto e solicitei que realizassem a leitura silenciosa. Após realizamos a leitura oral e partimos para a discussão do texto e partimos para a realização da atividade 1 proposta no TP1 – página 16.
Depois do estudo do texto, os alunos dividiram-se em grupos e solicitei que ensaiassem uma leitura dramatizada. Eles deveriam fazer a distribuição dos papéis, incluindo o narrador, e que enfatizassem o tipo de voz utilizada por cada personagem e que deveriam escolher uma maneira criativa de apresentação para os demais colegas.
Propus que ensaiassem por um determinado tempo. Durante o ensaio percebi que os alunos opinavam sobre o tom de voz, o ritmo mais adequado e a forma de apresentação. Procurei orientá-los em relação a fuga do tema proposto pelo texto original, já que alguns grupos solicitaram a realização de uma nova versão para o texto, com a condição de manterem os personagens e o enredo.
A apresentação foi marcada para o dia 13 de novembro de 2009 e a surpresa foi muito grande. Não pensei que os alunos iriam se dedicar tanto para a realização desta atividade. Enquanto um determinado grupo apresentava-se, os demais alunos ficavam como avaliadores e no final das apresentações, um relator de cada grupo apresentava a avaliação apontando os aspectos positivos e negativos, bem como sugestões de uma leitura mais adequada de acordo com o ponto de vista do grupo avaliador.
Foi um sucesso!!!

Preparação e ensaios

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